terça-feira, 6 de outubro de 2009

Doçura


Doçura

Nasci dura, heróica, solitária e em pé.
E encontrei meu contraponto na
paisagem sem pitoresco e sem beleza.
A feiura é o meu estandarte de guerra.
Eu amo o feio com um amor de igual
para igual. E desafio a morte.

Eu - Eu sou a minha própria morte.
E ninguém vai mais longe.
O que há de bárbaro em mim
procura o bárbaro e cruel fora de mim.
Vejo em claros e escuros os rostos das
pessoas que vacilam às chamas da fogueira.
Sou uma árvore que arde com duro prazer.

Só uma doçura me possui: A conivência
com o mundo. Eu amo a minha cruz,
a que doloridamente carrego.
É o mínimo que posso fazer de minha vida:
Aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.

¬ Clarice Lispector ¬