quinta-feira, 22 de outubro de 2009

UMA FLOR VOAVA


UMA FLOR VOAVA

Uma flor voava.
Por mais que pareça impossível,
uma flor voava.
Uma flor voava ia voando,
e levava ao lado o seu botão fechado.
Parecia uma jovem graciosa
com sua bolsinha no braço.
Voava a flor amarela,
no ar indefinido.

E nuns troncos imensos,
muito grossos, muito altos,
nuns troncos cheios de crepúsculo,
como colunas do céu,
sentinelas da vida,
nuns troncos muito escuros
iam pousando enormes borboletas flácidas,a
amarelas e pretas,
que decerto pousavam para sempre,
sem rumo nem poder,
amarelas e pretas, muito sinistras,
muito flácidas,muito grandes.

E a pequena flor amarela voava,
Solta, levíssima,
por um rumo secreto de alma evadida.



Cecília Meireles