sábado, 31 de outubro de 2009

Dá me a tua mão


Dá me a tua mão

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.


Clarice Lispector

Sua Falta...


Sua Falta...


Às vezes me pergunto
Por onde você anda?
Bate uma saudade,
Vontade de estar perto.
Teu cheiro me alimenta
Tua distância me esvazia
E meu amor tudo suporta.
Porque preciso dizer sempre
O quanto preciso de você?
Não quero mais dizer com palavras
Ouça meu corpo,
Leia meus olhos,
Sinta as batidas
Do meu coração
Entra na sensibilidade
Da minha alma
Lá darei a você todas as respostas
E a confirmação do quanto te amo!

Ðolcє ßárbαrα

Para nadar


Para nadar




Não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita

Não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar

Fechamos os olhos para garantir a memória da memória

É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras

Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo

O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória

Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível

Viver é boiar, recordar é nadar




Carpinejar

ODE AO POETAS



ODE AO POETAS

Poetas deviam ser presos,
amordaçados num lugar em segredo,
a sete chaves, longe dos meus medos.
Impedidos de alquimizar palavras,
e todos os poemas rasgados.

Poetas deviam ser abortados!
Porque cismam de nascer teimosos
e revirar entranhas, abusados?
Porquê vivem de invadir intimidades
e revelar pensamentos roubados?

Poetas, criaturas estranhas,
sonhadores, inúteis, coitados!
Aranhas presas em suas próprias teias,
veneno que corre em suas próprias veias.

Poetas, porque os quero?
Já não basta a vida a que me obrigo?
E a poesia que trago comigo?
Poetas, indecentes, bandidos,
caiam fora do meu umbigo!


NALDOVELHO

Moradora das areias...


Moradora das areias...



Sou moradora das areias,

de altas espumas: os navios

passam pelas minhas janelas

como o sangue nas minhas veias,

como os peixinhos nos rios...



Não têm velas e têm velas;

e o mar tem e não tem sereias;

e eu navego e estou parada,

vejo mundos e estou cega,

porque isto é mal de família,

ser de areia, de água, de ilha...

E até sem barco se navega

quem para o mar for fadada.



Deus te proteja, Cecília,

que tudo é mar - e mais nada.



Cecília Meireles

CARA A CARA




CARA A CARA

Enfrento o espelho
com seus enormes olhos vivos
onde me observam sentimentos incertos.
Cúmplice de poucos sorrisos
e imagens de saudade desenhada
onde sonhos se perdem entre o caos e o acaso.
Reflete tristeza nessa alma nublada.
Nesse momento o que sou...não sei.
Me desconheço!
Vejo imagens confundidas
história perdida
onde o tudo olha o nada...e o nada olha o tudo.
Essa imagem tão nítida...
tão breve aos poucos se turva...
despe meus medos...deixa nua a tristeza.
Nada vejo além de barcos naufragados
e um mapa perdido...
com a rota de um pranto sem porto.
É triste atracar uma ilusão...
carregar vida afora um sonho
quando o percurso é longo
e a cegueira infinita.

Rosy Moreira

Menos a mim


Menos a mim


Conheço a aurora com seu desatino
Conheço o amanhecer com o seu tesouro
Conheço as andorinhas sem destino
Conheço rios sem desaguadouros
Conheço o medo do princípio ao fim
Conheço tudo, conheço tudo
Menos a mim.

Conheço o ódio e seus argumentos
Conheço o mar e suas ventanias
Conheço a esperança e seus tormentos
Conheço o inferno e suas alegrias
Conheço a perda do princípio ao fim
Conheço tudo, conheço tudo
Menos a mim.

Mas depois que chegaste de algum céu
Com teu corpo de sonho e margarida
Pra afinal revelar-me quem sou eu
Posso afirmar enfim
Que não conheço nada desta vida
Que não conheço nada, nada, nada
Nem mesmo a mim.


Ferreira Gullar

Hoje
acordei com saudades
De voar na imensidão de mim mesma
E entre meus guardados
Procurei minhas asas
Houve um tempo em que
voava
E me perdia numa estranha alegria
Escutando o vento
Agora outra vez
Pelo céu quero voar
E sobre a muralha dessa vida
Sem medo

Deixar-me envolver na mais doce loucura
Lançar-me nesse vazio
E absorver o silêncio profundo e vasto
Que me dá todas as respostas
Hoje quero voar
Libertar o coração das amarras
Deixa-lo livre
Para desvendar horizontes
Desvanecer no espaço
Viver o sonho mais sonhado

Glória Salles

Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,voz incerta de rosa.

Nuno Júdice

TRADUZIR-SE


TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Busca...


Busca...


O amor que ainda não encontrei
É belo como as despedidas do sol
Gostoso como lambidas do mar
Passeio na grama com pés descalços
Puro como um sorriso de criança
Sincero como segredo trocado em abraços

Procuro por esse amor
Nos abismos da alma
Nas gavetas da lembrança
Nos caminhos da lua
Nos corredores das catedrais
Nas incógnitas esquinas
Na paisagem urbana
Calçadas, becos e ruas
Nas ruínas dos castelos
Nas torres de pedra
No vórtice da rosa-dos-ventos
Nas contas do terço
Na ladainha da reza

Um amor que seja assim
Como uma dança de roda
Uma cantiga de ninar
Uma ciranda de versos
Uma louca poesia
Um arco-íris sorrindo no céu
Uma procissão de estrelas
Musica... Canção
Tempestade e calmaria
Uma dança de véus


Quando o encontrar quero perder-me dentro dele...
... Para nunca mais me achar



AlexSimas

Sou lenda


Sou Lenda,
porque as lendas são envoltas em Mistérios e Magias.
São uma criação dos caminhos da mente,
da vaga imaginação da liberação dos silêncios da alma...



Sou Lenda, porque as
lendas correm livres
junto ao vento, buscando as vozes
da memória
para que alcancem,
as histórias perdidas
no tempo...



Sou Lenda, Então, sendo Lenda
pelo desejo incontido posso cavalgar pelos
que há em mim, de tornar sonhos, velejar pelos
possível o encontro entre a mares da sua
Lua e o Sol, saudade, passear,
diminuindo o entrave da dor... solta, pelo seu
pensamento...


Sendo Lenda,
posso brincar na sua alegria,
ser parte da sua emoção,
e caminhar,
tranqüila, pela sua ilusão... Sendo Lenda,
posso escrever
meu nome em sua vida,
e me instalar no aconchego do seu coração
como uma sensação chegando pelo perfume do ar...
Sendo Lenda
posso ser parte de você,
sem você perceber...

Débora Bottcher

Transparência



Transparência

Se tudo que sentes, vês
Pensas e ouves de mim
Te parecem insólitos
E inadequados, saiba
Que isso tudo é a essência
Exata do que sou

Se, ora me vês
Agindo como criança
Menina que, mesmo
Sem falar, aponta...
Ou se me sentes
uma fraca, uma velha
Que estórias
velhas de vida, conta...

É que me encontrastes
perdida, indecisa nas
Encruzilhadas que eu
mesma tracei com dedos
Trêmulos na areia
Vestindo solta
A estrada da vida...

Por isso, não procures
segredos em mim
Não passo e jamais
Passarei de lógica
Primária matemática...
A soma exata
do que te mostro
E o que se esconde
em mim
Que eu própria
desconheço!

Reflita um pouco...

Hoje caminhaste
Sentiste o vento
E o sol que seca
as folhas no chão...
E que saber o que
De especial usaste?
Ciência!... Magia!...
Sabedoria da alma talvez!...


Ignez Sparapanni

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Suave!


Suave!

Suave é o vento que te sopra,
A seda que te cobre,
O riso que te aflora,
O olhar que em ti brilha,
E o desejo que me toma!
Suave é a noite que desponta,
A lua que já nasce,
O beija flor que se deita,
O riacho já em prata,
O silencio na mata!
Suave é tua fala que me cala,
Teu olhar que me procura,
Teu braço que me toma,
Tua boca que me beija,
Meu olhar que te deseja!

Santaroza

Que eu siga colorindo


Que eu siga colorindo

que eu saiba ferver água
para um chá saboroso
que eu não tenha medo do amor
que eu preserve o gosto
pelas coisas mais simples do dia a dia
que a poesia nunca morra dentro de mim
por mais que a esperança esteja por um fio
que pequenos gestos façam
para sempre, toda a diferença.
que os meus medos não me consumam
que os valores sempre se renovem
que a essência nunca morra
que eu siga gostando de sentir
meus pés tocando as nuvens
e, por hora, o chão
que eu nunca deixe de cultivar o meu jardim
que as minhas flores nunca murchem
que eu nunca deixe de sentir paz ao olhar o horizonte
que as músicas continuem sendo perfumadas
que as crianças continuem sendo espontâneas
que eu nunca deixe de transbordar ao ler Clarice Lispector
que as estrelas sempre apareçam para mim
que eu consiga manter a espinha ereta
que eu consiga erguer meus castelos
que eu nunca deixe de sonhar
que as amoras nunca me deixem

J.Ramalho

O amor, ter ou ser


O amor é um pássaro rebelde
que ninguém pode aprisionar,
de nada serve chamá-lo
pois só vem quando quer.
De nada servem ameaças ou súplicas,
um fala bem, o outro cala-se
é o outro que prefiro, e esse não disse nada,
mas agrada-me.
O amor é filho da boêmia,
que nunca, nunca conheceu qualquer lei;
se não me amares, eu te amarei;
se eu te amar, toma cuidado!
O pássaro que julgavas surpreender bateu asas e voou.
O amor está longe, podes esperá-lo
já não o esperas
aí está ele.
À tua volta, depressa, depressa,
ele vem, ele vai, depois volta...
Julgas tê-lo apanhado, ele te escapa;
julgas que te fugiu, ele agarra-te.
O amor é filho da boêmia,
que nunca conheceu qualquer lei.
Se não me amares, eu te amarei;
se eu te amar, toma cuidado.

Stella C. Ferraz

Ato Conciente


ato conciente

O Tempo
Como augúrio de mortos-enterrados
Leva o só
A um campo de rosas de presença única


Outros tantos
Outros entes
Entre tantos
Tão somente
Esperam
Que o tempo, ou o vento
Reescrevam suas histórias.


Ankh

OUVI DIZER...


OUVI DIZER...


Existe um lugar
- um passarinho me contou -
onde os seres habitam
impunemente felizes
suas tocas, suas casas.
Seria em que floresta,
em que memória encantada
em qual inaudito planeta,
ou esfera mais abençoada ?
-Em que lugar,
diz-me pássaro escuso,
preciso saber,
para que eu junte no bico
minhas imprescindíveis ervas,
minhas malas
e, como tu,
eu me adeque aos ventos,
e bata definitivamente as asas.


Fernando Campanella

Modinha



Modinha

Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixeia-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.


Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!


O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.


Cecilia Meireles

Chegas...



Chegas...

Chegas, e de repente eu me pergunto
como pude ser poeta antes de ti,
antes de nossas horas encandeadas...
Como pude escrever coisas que agora
me parecem belezas mutiladas...

Chegas, e de repente me surpreendo
de que ainda haja surpresas para o amor,
marcado como estou da cicatrizes...
Eu que escrevera um dia amargurado:
"agora, em meu caminho, só reprises"...

Chegas, e eu adolesço de alma e corpo
e de repente, num verão que abrasa
como nunca pensara nem supus,
sou todo novos ramos, verdes ramos,
sou todo sol numa eclosão de luz...

E nesta ânsia de amor que me sufoca
que te sufoca como uma onda, e cresce,
e invade tudo, e é o tema de meu canto,
só um desespero surdo me consome:
é perceber quanto perdemos, quanto...

E me deixar a imaginar a vida
que não viveste, mas que te manchou
com a lembrança de inúteis pensamentos,
esta vida afinal que eu nem sabia
e agora solto como um lastro aos ventos...

Jogo aos ventos, enquanto ascendo, e vejo
em teus olhos um mundo de ninguém
e uma paisagem que ainda está sozinha...
Oh! meu amor, tudo é começo e é novo
agora que sou teu e te sei minha....

Um mundo de que nunca suspeitara...
e eu que falava em mundo antes de ti,
como se antes de ti pudesse ser...
E eu que falava em vida antes de amar-te,
e eu que falei de amor, sem nada ter...

Chegas. E de repente me pergunto
que amor é esse que existiu sem ti?
Que flores? Se não houve primavera...
Ah! nascemos agora, um para o outro,
e antes, não fomos mais que vã espera...

Antes, não fomos mais que espera vã...
E agora que existimos neste amor,
penso, que se afinal não te encontrasse,
o amor teria sido uma palavra,
uma palavra inconseqüente e fútil,
nada mais, nada mais que uma palavra;

e outra palavra a vida, e só palavras
todo o meu canto... e esse caminho inútil...

( Poema de JG de Araujo Jorge
do livro"A Sós..." 1a ed. 1958

Cinzas & Estrelas


Cinzas & Estrelas


Chuvas cósmicas e vôos
no intra-caos abissal
cometas ariscos, poeiras
gotas, pingos, vendaval
acontecem nas manhãs
molhadas-móveis de maio
constelações, conjecturas
das mil danças, o ensaio...


Cristais, anéis, elipses
luas e espirais
galáxias fumegantes
e pérolas astrais
estrelas trituradas
fuligens, sais, vapores
lampejos, cintilâncias
memórias de amores...


Cacos de conchas, luzes
céus e pratas marinhas
águas, ritmos, rituais
incandescentes entrelinhas
encontros e correntes
colares, curvas, caracóis
no espaço livre e nebuloso
do mergulho entre - lençóis...


Cinzas de sóis e sonhos
restos, farelos, grãos
adornando pés, cabelos
pescoços, seios, mãos
na travessia da noite
brilhos, pós e pedrarias
fios de nuvens violeta
fiapos de fantasias...


Ana Luisa Kaminski

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

OS VENTOS



"OS VENTOS"

Não há, nos ventos,
a liberdade da morte,
embora sejam implacáveis e
jamais perdoem as folhas secas.

Todos os ventos têm nome
mas não se conhece nenhum
de perto, embora
se agarrem a você
e desorganizem a harmonia.

Os ventos não têm forma
mas sabemos todas as suas aspirações
e os seus amores com o mar e as árvores.

Os ventos não têm a liberdade da morte
diluídos na essência
do que nunca aconteceu.

"Os tristes acham que o vento geme.
Os alegres e cheios de espírito afirmam que ele canta."

A palavra é a música,
O silêncio é a saudade;
A palavra é a prece,
O silêncio é a meditação;
Somos condenados pelo que falamos;
Nos condenamos pelo que calamos
A palavra é a flor,
O silêncio é o embrião:
A palavra é a vaidade,
O silêncio é a moderação;
A palavra é a moldura,
O silêncio é a pintura;
A palavra é grande – diz alguma coisa,
O silêncio é maior – diz tudo ou nada
Falar nunca será defeito
Mas saber calar será sempre virtude!


Talapaxi

Minha Canção


Minha Canção

Minha canção te envolverá com sua música,
como os abraços sublimes do amor.
Tocará o teu rosto como um beijo de graças.
Quando estiveres só, se sentará a teu lado
e te falará ao ouvido.
Minha canção será como asas para os teus
sonhos e elevará teu coração até o infinito.
Quando a noite escurecer o teu caminho,
minha canção brilhará sobre ti como a estrela fiel.
Se fixará nos teus lindos olhos e guiará teu olhar
até a alma das coisas.
Quando minha voz se calar para sempre, minha
canção te seguirá em teus pensamentos.



Rabindranath Tagore

HOJE



HOJE



Hoje
de um punhado de silêncio,
quero o som
que vem de dentro;
o olhar obsequioso
e não de desdém.
Já chegam as dores
e tudo que com ela advém.
Não quero nada abjeto
e inconcreto!
Preciso sentir dos valores,
o calor de onde
verdadeiramente ele vem.
Das preciosidades,
o abraço de saudade
e nada de horrores
ou que soe falso!

Se não for isso,
hoje,
não falem comigo!
Não me olhem!
E se realmente,
não existo,
me ignorem!
Hoje
é tudo que preciso!

Já chorei alto
para não ouvir
minha revolta,
já mantive o choro abafo
para conter quem estava ao lado,
já dei muitas voltas
para não verem meu coração acelerado
e agora,
descompassado,
sou uma pessoa que ri e chora..

Levem embora a fantasia,
meu coração estará fechado!
Como cultivar a lira
com o peito todo machucado?
Hoje, completamente ferida,
busco guarida
depois de muito ter andado..


RIVKAH COHEN

"O sofrimento
é só uma ventania que
arrasta as folhas secas...
mas não destrói a beleza das flores.
Com muita fé, coragem e perseverança,
a gente consegue derrubar qualquer obstáculo!
Acredite nisso"!!!!

Passe um dia só, percebendo e sentindo seus
"Pedacinhos de Felicidades".
No final do dia,
Você irá descobrir que não precisa muito para ser feliz.
Basta juntar os pequenos momentos para que se tornem grandes....

PRESENTE




PRESENTE

Embrulhado em meus pensamentos

feito presente colorido e esperado

você chega de repente...disfarçado em sorriso.

Ao seu contato

abro o palco e me acendo inteira

entrelaçando luzes como relâmpago a vestir claridade.

Não sei a distância de um raio de luz

mas vejo delineada a chama que queima meu olhar

incendiando meu céu em pleno dia.

O cheiro do seu corpo é erva-santa

remédio bendito para curar as dores

e deitar meu cansaço.


O mel do seu sossego

torna doce a água do rio que me transborda

escorrendo lenta entre fogo aflito rogo e sussurrar.

Nessa trama de amores

tudo se inclina...deita e lateja peito adentro.


Como correnteza ao encontro do mar.


Rosy Moreira

Balada da Irremediável Tristeza


Balada da Irremediável Tristeza


Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...

Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

Abgar Renault

Á flor da pele


Á flor da pele

Tenho tantos poemas de amor na pele
Á flor da pele
Que só a minha pele não chega
E tenho de escrevê-los na tua.
Tenho tanta paixão dentro
Que o meu corpo não comporta
Porque é só um corpo
Por isso no teu a derramo
Dividindo-a em dois.
Tenho tantas palavras por dizer
Que a voz me embarga
As palavras se atropelam
Por isso te beijo
As digo na tua boca
As guardo em ti.
Para que sendo dois
Digas as palavras
Quando me atropelarem
Quando a voz me embargar
Quando me sufocarem.

Encandescente

domingo, 25 de outubro de 2009

Na intimidade da lua ...


Na intimidade da lua ...


queria na intimidade da lua
à deriva do vento
penetrar na sombra do tempo
recordar da tua figura nua

queria desenhar abraços enlaçados
navegar nas tuas curvas-magia
mergulhar numa vertigem
acordar nas tuas maresias

queria te cobrir com a minha primavera
espalhar perfumes da pele
desvendar segredos em flores
te despertar com carícias e malícias
invadir teus poros de paixão
na intimidade da lua

queria ...


Maria Thereza Neves

sábado, 24 de outubro de 2009

Soturno






Soturno

Libidinal

Nocturnos de mim

sombras de sonhos

pulsados

revelações longínquas

esconderijo de libido

a espreitar-se

em cada fresta

de célula bipartida

dualidades


dormem pescoços

acordam molares

Silêncio!

cada noite é uma pauta musical

orquestrada

por teu desejo

ora sóbrio

ora enterrado

no esquife

onde jaz tua vítima

ainda morna.


Ana Paula Perissé

Que belas as margens
do rio possante,
Que ao largo espumante
campeia sem par!
...Ali das bromélias
nas flores doiradas
Há silfos e fadas,
que fazem seu lar...

E, em lindos cardumes,
Sutis vaga-lumes
Acendem os lumes
P'ra o baile na flor.

E então — nas arcadas
Das petálas doiradas,
Os grilos em festa
Começam na orquesta
Febris a tocar...

E as breves
Falenas
Vão leves,
Serenas,

Em bando
Girando,
Valsando,
Voando
No ar!...

Castro Alves

sexta-feira, 23 de outubro de 2009



Não quero
que o silêncio
me defina
e deixe
minhas palavras
nuas...

Não quero
minhas palavras
esquecidas
num canto
onde
não as encontro
mais...

Largo-as ao vento
para que se espalhem
e pousem
nos sentidos de cada um
como pássaros
retornando ao ninho...

Edgar Radins

O Meu Amor


O Meu Amor


O meu amor tem mechas de poesia
que saltam sobre as telas da canção
e quando toco as mãos, a sinfonia
dos beijos toca as harpas da paixão.

O meu amor tem sol na melodia
que salta dos seus olhos, e a emoção
da rouca voz que sabe a sintonia
da paz, após o encanto da explosão.

O meu amor é coisa antiga e é coisa
nova. Vem de outros tempos e ora poisa
no meu silêncio e invade a alma poeta.

O meu amor é a Estrela que me chama,
acende a chama e em versos se declama...
Soneto da paixão que me completa!

TEMPO DE INFÂNCIA


TEMPO DE INFÂNCIA


Na lembrança vejo a menina,
que descalça, na terra corria,
em seu reino a pequenina,
como doce princesa vivia!

Eram tamanhos os sonhos,
que povoavam sua mente,
que os seus olhos risonhos,
encantavam muita gente!

E então essa gente trazia,
pra menina toda prosa,
brinquedos e fantasia,
de uma vida cor de rosa!

Mas o tempo foi escoando,
e a menina, mulher se tornou
e dos sonhos relembrando,
uma lágrima então brotou!

No girar das estações,
sempre fica uma ferida,
dos caminhos e ilusões,
que entrelaçam toda vida.

No passado revivido,
de seu tempo de criança,
em seu coração ressentido,
viu-se plena de esperança.

E num átimo de segundo,
de singela e terna saudade,
abriu a janela ao mundo,
buscando a felicidade!

SERENIDADE


SERENIDADE


Estás no ponto de estourar?
Acalma a tua mente
Silencie para pensar
Esqueça as rusgas doentes.


Se o motivo é moléstia
No teu próprio corpo,
A falta de paz manifesta
Trará-lhe o pior esforço.


Se a enfermidade é a razão
Em pessoa querida
O abalo de coração
Não apagará a ferida.


Se, sofres prejuízos
A reclamação é uma bomba
Não percas o teu juízo
Se não outro caso se te ronda.


Qual seja a dificuldade
Conserve a tua calma
A tua serenidade
Será o teto de tu´alma!

Machado de Carlos

FRAGMENTOS


FRAGMENTOS

Já que se foi
Porque não levou...
O coração em bagaço que deixou
O olhar molhado de pranto
A alma vazia de encanto

Não devia ter deixado
Pedaços de mim
Fragmentos de momentos
Saudade sem fim

Deixasse ao menos escrito
Como te achar no infinito
E eu tentar prosseguir.

Simplesmente Teresa

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

AUSÊNCIA



AUSÊNCIA

As horas não passam
Inquietação, angústia...
Sentimento gelado, vazio...

Quem já viveu a espera, a doce espera
Ilusão do coração
A dor da solidão que nada preenche
Que só sara com a presença...

Presença da voz
Do calor
Das marcas deixadas
Quando o amor não era ausência.

Arnalda Rabelo

DE QUE SÃO FEITOS OS DIAS?


"DE QUE SÃO FEITOS OS DIAS?"



De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.

De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...




CECÍLIA MEIRELES

RIO





Rio,
caminho que anda
e vai carregando contigo uma dor,
ah! quantas pedras rolaste,
quantas pedras deixaste
sem vida e amor!
Vens, lá do alto da SERRA,
o ventre da TERRA
rasgando sem dó,
EU,
também venho do AMOR,
com a alma cansada
de dor e tão só!
Não viste a flor se curvar,
teu leito beijar
e ficar para trás?
Tens a mania doente,
de andar só pra frente,
não volta jamais!
RIO,
caminho que anda,o MAR te espera,
não corras assim!
EU, sou o MAR que espera,
ALGUÉM que não corre,
prá mim!


Guia Bezerra

Receita de arrumar gavetas


Receita de arrumar gavetas

Separe coisa por coisa:
de um lado o pólen do passado
as raízes do que foi importante
os retratos os bilhetes
os horários de chegada
de todos os navios-pirata
os sinos que anunciam
que há um amigo na estrada.
Do outro lado um espaço vazio
para o que vai acontecer
as surpresas do destino
os desatinos do acaso.


Roseana Murray

UMA FLOR VOAVA


UMA FLOR VOAVA

Uma flor voava.
Por mais que pareça impossível,
uma flor voava.
Uma flor voava ia voando,
e levava ao lado o seu botão fechado.
Parecia uma jovem graciosa
com sua bolsinha no braço.
Voava a flor amarela,
no ar indefinido.

E nuns troncos imensos,
muito grossos, muito altos,
nuns troncos cheios de crepúsculo,
como colunas do céu,
sentinelas da vida,
nuns troncos muito escuros
iam pousando enormes borboletas flácidas,a
amarelas e pretas,
que decerto pousavam para sempre,
sem rumo nem poder,
amarelas e pretas, muito sinistras,
muito flácidas,muito grandes.

E a pequena flor amarela voava,
Solta, levíssima,
por um rumo secreto de alma evadida.



Cecília Meireles

E o sol aparece


E SOL APARECE







Eu só quería um pedacinho de sossêgo
um tantinho de paz,
um canto de silêncio...
Por mais que eu seja fortaleza
dura na queda
e otimista,
tem dias que renascer
é parto doloroso
e fazer a alma sorrir entre as lágrimas
se torna dificultoso.


Mas somos todos parte do milagre
de ' sacudir a poeira e dar a volta por cima',
tem horas que desespero se faz maior
mas existem horas que com um simples carinho,
se faz sol em meio as neblinas...


Álix Amanda

Feche os olhos


Feche os olhos
pense em mim
fui um sonho
encantamento
magia
um mistério!

Estive aqui o tempo todo!
no romper das ondas do mar
na brisa
no infinito q não tem fim!
te esperei longo tempo..

Sentei-me na areia alva
fiz versos e canções
que viraram poemas pra ti
Chorei
gritei teu nome
eu era o amor desejado
...não reconhecido

Nas noites de luar
com cheiro de damas da noite
- flores perfumadas -
contava estrelinhas
e em cada uma
mais um dia vivido por ti!

Feche os olhos!Não chore!
Sinta meu corpo colado ao teu
roube-me todos os abraços
aperte-me em seus braços
sinta minha mão a te acariciar
meus olhos nos teus!

Esperei
demoraste
não vieste
vamos celebrar
agora sou aquela estrelinha
q guia teus passos..
Podes ver?

Celina Vasques

ENTRE


ENTRE

Entre em meu coração e não debique.
Faça morada sua, toda a vida.
E cada dia o amor mais forte fique
-corações integrados na batida.

Não será nossa vida dividida.
Seremos dois num só, cada um se aplique
na integração total já consentida,
que ninguém saberá, nem que suplique.

E sendo um só nós dois teremos tanto
amor para nos dar, quanto as batidas
possam crescer cada momento e quanto!

Ninguém terá este amor, antes, depois:
durante todo o tempo em nossas vidas,
será só um os corações dos dois.

Théo Drummond

Assombros


Assombros

Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

Livro de Horas


Livro de Horas



Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.

Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.

Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!

Miguel Torga

Poema de Areia


Poema de Areia



Lá vai um poeta na praia deserta,
banhado de sal e paixões das marés.
Caminha a incerteza da onda que oferta
pedaços do mundo jogado aos seus pés.

Navios aportam sonetos de alerta
e o grito vem alto do velho convés
caiado ao betume da vida encoberta
por névoas e sonhos que o tempo desfez.

Avante, poeta!... Escala o rochedo,
esquece as espumas, saudades, e areias.
Navega delírios, gaivotas, sereias

e todos os segredos do verbo aloucar.
Levanta essa âncora e abraça esse medo...
O medo é o troféu para quem quer voar!

Nathan de Castro

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Grito de Saudade




Se não houvesse palavras,
se não houvesse desejos,
por certo, o amor me coubesse
num beijo ardente da tarde.
Se não houvesse paixões,
os versos fariam sentido...
Seriam somente açoites
de um sonho pequeno e aflito.

Se não houvesse estradas,
se não houvesse cortejos,
por certo, a morte faltasse
nos meus versos de saudade.
Se não houvesse canções,
onde seria o infinito?...
Os dias somente noites,
e as noites sem o meu grito.


Nathan de Castro

Presente



Presente

que todos os laços sejam refeitos
que a dança seja valsa
que a saudade seja uma coceira no nariz
que o som seja só dos risos
que as mensagens sejam de amor
que a estação seja sempre primavera
que o bonito seja eterno
que os encontros sejam demorados
que o beijo seja sempre como o primeiro
que a alma dance num céu estrelado
se estique até o nascer
de muitos sóis por vir
que o presente seja seu melhor presente


J.Ramalho